– Filho de Adão, está disposto a desfazer o mal que fez ao meu manso país de Nárnia no dia de seu próprio nascimento?
– Só não sei o que posso fazer. Como o senhor sabe, a rainha fugiu e...
– Perguntei se está disposto? – disse o Leão.
– Estou.
Passara-lhe um segundo pela cabeça a tentação boba de responder: “Estou disposto, se o senhor prometer-me ajudar minha mãe.” Mas percebeu a tempo que o Leão não era criatura com a qual se podia fazer barganhas. Porém, quando disse “Estou”, pensou na mãe, nas grandes esperanças que tivera, e em como agora elas estavam para morrer. Sentiu um nó na garganta e lágrimas nos olhos. Deixou escapar, no entanto:
– Mas, por favor, por favor... o senhor não podia me dar qualquer coisa que salvasse minha mãe?
Até aquele instante, só olhara para as patas do Leão; agora, com o desespero, olhou-o nos olhos. O que viu o surpreendeu mais do que qualquer outra coisa. Pois a face castanha estava inclinada perto do seu próprio rosto e (maravilha das maravilhas) grandes lágrimas brilhavam nos olhos do Leão. Eram lágrimas tão grandes e tão brilhantes, comparadas às de Digory, que por um instante sentiu que o Leão sofria por sua mãe mais do que ele próprio.
C. S. LEWIS. O Sobrinho do Mago. As Crônicas de Nárnia.